Por que o Ibovespa acumulou a maior sequência de quedas da sua história?

ago 21, 2023 | Notícias

Dois temas na economia internacional estão no centro das preocupações dos investidores: 1) Juros elevados nos Estados Unidos, o Federal Reserve reforçou que a porta está aberta para subir mais as fed funds; e 2) Ceticismo com a economia chinesa, as medidas do governo foram insuficientes para o mercado confiar em uma forte recuperação.

Nos Estados Unidos, o impacto não seria apenas resultado da percepção de que os juros poderão subir mais ou permanecer elevados por mais tempo para conter a força da economia e os riscos de inflação. Há um efeito cascata no sistema financeiro, com o déficit fiscal muito alto. O Tesouro norte-americano está sendo obrigado a emitir dívida, enquanto o Federal Reserve não tem encontrado demanda suficiente para reverter o excesso de títulos que acumulou no balanço.

A taxa de juros americana é a base do custo financeiro global, e o Brasil não é uma bolha. Se a situação começa a azedar nos Estados Unidos, vai afetar aqui. Inclusive, isso poderia ser uma restrição para a magnitude do corte de juros no Brasil, que recentemente caiu de 13,75% para 13,25%.

Ilusões e expectativas sobre a China é o outro tema que está materializando perdas nos mercados. O enfraquecimento da economia chinesa está relacionado ao mercado imobiliário fragilizado, diante da redução dos estímulos e gastos em infraestrutura, que foi o grande motor de crescimento nas últimas décadas. A oferta de imóveis residenciais atingiu o nível mais baixo desde 2005, enquanto a demanda continua em baixa cíclica.

O Banco do Povo da China (PBoC) vem cortando as taxas de juros para motivar a demanda local, mas o incentivo pareceu insuficiente diante do cenário negativo dos setores imobiliários e de infraestrutura. Analistas vem apontando que o esforço via juros não será suficiente, pois as lutas da China são mais profundas, refletindo uma mistura de fatores cíclicos e estruturais para conseguir fomentar o consumo.
Reportagem da Bloomberg indica que a crise imobiliária na China pode ser pior do que os dados oficiais mostram, em parte por causa de uma metodologia antiga, que provavelmente está subestimando a profundidade da situação. O setor imobiliário e sua ampla gama de indústrias relacionadas geram cerca de 30% ou mais do Produto Interno Bruto (PIB) da China.

Nos últimos anos, a China vem enfrentando turbulência no setor imobiliário. A China Evergrande, que já foi a segunda maior incorporadora da China, protocolou pedido de proteção contra falência nos EUA. A empresa acumulou diversos empréstimos e deixou de pagá-los em 2021.
Recentemente, a Country Garden anunciou a suspensão da negociação de dez títulos corporativos. A companhia não pagou os juros dos seus empréstimos, após os prejuízos bilionários no primeiro semestre do ano. A Bloomberg calcula que ela tenha quatro vezes mais projetos em andamento, portanto, uma eventual quebra seria ainda mais desastrosa.

A consultoria Capital Economics destaca que a economia chinesa corre o risco de passar por uma “década perdida”, indicando a necessidade de mais estímulos para evitar um crescimento nulo nos próximos trimestres. O Nomura reduziu a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China em 2023, de 5,1% para 4,6%.

Os impactos da China serão percebidos pela economia brasileira, seja via comércio – uma vez que a China é principal parceiro comercial, seja via mercado financeiro – visto que 1/3 das empresas listadas na bolsa são ligadas às commodities.
Recentemente, a XP atualizou o valor justo do Ibovespa para o final de 2023 para 133 mil pontos, de 130 mil pontos projetados anteriormente, dada a contínua queda nas taxas de juros de longo prazo no Brasil. No entanto, qualquer deterioração nas condições de voo das economias globais ou percalços na política fiscal brasileira podem influenciar na expectativa de juros de longo prazo.

O Ibovespa é negociado a um Preço/Lucro (P/L) projetado de 8,5x, abaixo da média histórica de 11,0x. Lembre-se, ação barata não é sinônimo de retorno futuro. Por isso, converse com o seu assessor de investimentos e foque na qualidade da seleção das ações.


Informação gera a melhor decisão!

Conteúdo feito por Camila Abdelmalack – Economista-Chefe da Veedha.

o podcast da veedha

Termômetro Veedha

Ouça o nosso último episódio, acompanhe o nosso podcast e venha tomar um café com a gente!

fique por dentro

Cadastre-se e receba
nossos conteúdos