O libertário Javier Milei venceu o Ministro da Economia, Sergio Massa, marcando uma nova etapa na política argentina. O novo presidente ganhou destaque com propostas sociais e econômicas que dividiram opiniões, como a dolarização da economia argentina e a eliminação do Banco Central, juntamente com duras críticas aos partidos políticos estabelecidos.
Hoje, a economia argentina já é parcialmente dolarizada, mas o controle da política monetária ainda está sob o regime do Banco Central argentino.
Ao fechar o Banco Central e dolarizar a economia, a Argentina perderia independência monetária, ou seja, a Argentina passaria a depender da economia dos Estados Unidos e das decisões do Federal Reserve.
As consequências da eliminação do Banco Central.
A Argentina deixaria de ter controle sobre instrumentos como a definição da taxa básica de juros, utilizada para estimular ou desestimular a demanda agregada, dependendo da situação econômica do país.
Se algum problema na Argentina provocar uma recessão, não seria possível baixar os juros para aquecer a economia. Se o Federal Reserve elevar os juros por algum motivo doméstico dos EUA, a economia argentina vai esfriar, mesmo que esteja estagnada.
Analistas apontam que a dolarização de uma grande economia é uma faca de dois gumes:
No curto prazo, a substituição da moeda poderia dar uma “sensação de vitória” com uma queda brusca na inflação — a principal dor dos argentinos atualmente.
No entanto, sem controle monetário, a nação perde uma de suas principais ferramentas para lidar com crises econômicas: a política monetária.
Quais os obstáculos para a dolarização? Faltam dólares para substituir todos os pesos.
Além do desafio de aprovação no Congresso, a Argentina não possui reservas de dólares suficientes para adotar o dólar como única moeda em circulação ou fixar algum câmbio contra o dólar.
Estimativas para o valor necessário, dependendo do câmbio, vão de US$ 35 bilhões a US$ 50 bilhões. Segundo consultorias, o BC argentino tem reservas de US$ 7,3 bilhões; em termos brutos, o valor fica negativo quando se descontam os passivos.
Esse movimento de abandonar a moeda local para adotar o dólar já foi aplicado em países de pequeno porte, como Equador, que tem 17,8 milhões de habitantes, e Panamá, com 4,3 milhões — mas nunca em um país com uma economia nas dimensões da Argentina, que soma 45,81 milhões de habitantes e um PIB de US$ 632,7 bilhões em 2022.
Agora, é aguardar 10 de dezembro para acompanhar na prática os novos planos para a economia argentina.
A proposta eleitoral de dolarização vem em meio a uma crise econômica que traz uma das maiores taxas de inflação do mundo atualmente.
Em outubro, a inflação acumulada dos últimos 12 meses alcançou 142,7% na Argentina — patamar mais alto desde agosto de 1991.
Conteúdo feito por Camila Abdelmalack, Economista-Chefe da Veedha.