Carta mensal – Quatro semanas do 2° turno. O que você precisa saber?

out 6, 2022 | Fechamento Mensal

O mercado brasileiro segue de olho nas movimentações do xadrez eleitoral durante a corrida do segundo turno e observa os apoios que ambas as candidaturas recebem. Ainda é muito recente qualquer diagnóstico que aponte o vencedor da disputa presidencial. Por isso, ao longo das próximas quatro semanas estará contratada bastante volatilidade. Ainda mais pelo fato de que os candidatos à presidência serão provocados a comentar sobre temas ligados à política econômica, que implicam diretamente nos ativos.

Nesse primeiro momento, os investidores encontraram no perfil conservador do Congresso eleito a “boia de salvação” contra qualquer devaneio. Principalmente pelo fato de reduzir a probabilidade de uma agenda intervencionista na economia em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula. 

Sem rodeios, fazendo a leitura da fotografia da segunda-feira (3) pós-1° turno, a compreensão recai sobre dois possíveis desfechos: 1) Presidente Bolsonaro, se reeleito, ganharia força, pois seu partido terá a maior bancada no Senado em 2023. Isso reforça as expectativas de que mantenha a pauta liberal, focando assuntos que o mercado aprecia, que vão de privatização à agenda de reformas econômicas e modernizações; 2) Luís Inácio Lula da Silva, retornando à presidência nesse novo desenho do Congresso, terá um espaço menor para retroceder em medidas que não lhe agradam, por exemplo, Reforma Trabalhista e regras fiscais. 

O contexto de aumento da atividade doméstica acima do esperado desde o início de 2022, que permitiu uma melhora generalizada do emprego, e a desaceleração da inflação no Brasil são combinações importantes para explicar a manutenção do apetite pelos ativos brasileiros, especialmente o Ibovespa, que consegue descolar do contexto do cenário internacional, de recessão econômica como resultado da elevação dos juros para combater a forte inflação.

Nós continuamos enxergando a Bolsa brasileira como atrativa, pois segue negociando com 40% de desconto em relação à média histórica, segundo a XP Investimentos. O Raio-XP manteve o valor justo do Ibovespa em 130 mil pontos, inalterado mesmo com o cenário da eleição. A queda dos juros futuros de longo prazo no Brasil segue sendo um suporte importante para o valor justo da Bolsa.

A exuberância observada nos ativos brasileiros pode ser ampliada, mas provavelmente o alívio pode esgotar-se com alguma facilidade, porque o pragmatismo sugere que não se deve exagerar no otimismo. Atenção aos papéis e setores que tendem a ser mais sensíveis ao cenário doméstico (educação, imobiliário e varejistas) e, consequentemente, ao pós-eleição. 

Os indicadores econômicos correntes devem permanecer positivos, com crescimento sólido, inflação em queda e resultados fiscais e de balanço de pagamentos saudáveis. Contudo, algumas incertezas atreladas ao cenário fiscal para 2023, no pós-eleição, podem cobrar um preço. 

Vamos então aos pontos que podem influenciar:

1° alerta: A trajetória das contas públicas em 2022 é positiva, com redução de endividamento público (de 89% em outubro/2020 para 77,5% em agosto/2022), devido à arrecadação mais forte e à manutenção do teto dos gastos, que mantém o esforço do governo em cortar gastos. No entanto, para o próximo ano há incertezas por causa das promessas dos candidatos, que implicam em elevação das contas além do espaço previsto pela regra do teto dos gastos. 

Haverá necessidade de acomodar até R$ 165 bilhões em despesas adicionais, como a extensão do Auxílio Brasil em valores mais elevados (impacto de R$ 60 bilhões) e reajustes a servidores públicos (R$ 32 bilhões), além de ampliação dos gastos com o piso nacional de enfermagem e a compensação das perdas de ICMS dos Estados, o que demandará uma revisão no teto de gastos em montante ao redor de R$ 140 bilhões. O teto prevê um espaço para elevar gastos em cerca de R$ 25 bilhões. 

O equilíbrio das contas públicas nos próximos anos requer uma regra de despesa rígida. A diretriz da política fiscal a partir de 2023 é fundamental para que as expectativas de inflação continuem caindo, abrindo espaço para o Banco Central reduzir juros adiante. Caso a situação de contas públicas gere desconfiança, a curva pode voltar a embutir prêmio e influenciar nas perspectivas para o mercado acionário. 

O 2° alerta: Petróleo em US$ 90 o barril, mas voltaram a falar que pode ficar acima de US$ 100 e ir além. No mercado de commodities, os preços do petróleo caíram por incertezas quanto à demanda global, em razão da expectativa sobre a forte desaceleração das economias desenvolvidas.

Recentemente, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu pelo corte da produção devido ao incômodo com o patamar do preço do petróleo ao redor de US$80. Outro ponto que pode voltar a elevar as cotações é a proximidade do inverno no hemisfério norte, pois os países europeus que dependem fortemente de importações agora devem buscá-las em outros lugares que não a Rússia – a região importa 96% do petróleo e 89% do gás natural. 

A recente descompressão da commodity voltou a ser uma dúvida.

O 3° alerta: Recessão econômica como consequência da elevação de juros pelos principais bancos centrais do mundo (EUA, Zona do Euro e Inglaterra). Como o Federal Reserve tem sido o mais agressivo entre os mercados desenvolvidos, isso fez com que as principais moedas se desvalorizassem fortemente em relação ao dólar. Juntamente com uma perspectiva de deterioração para a Europa e o Reino Unido; o euro e a libra esterlina atingiram mínimos recordes recentemente. 

Há expectativa de juros ao redor de 4,5% ao fim de 2022 e próximo de 5% em 2023. Por isso, as perspectivas para os mercados globais continuam cautelosas e os investidores globais buscam segurança nos ativos mais líquidos e defensivos do mundo, os ativos em dólares. 

Ficar atento sobre a taxa de juros ajuda a compreender quando será o momento de melhora no quadro do mercado acionário nos EUA. Respire e lembre-se que nenhuma crise dura para sempre. 

Conclusão

Persistem os temores de que o final de ciclo de crescimento já tenha começado, e a percepção é que continuaremos em ambiente de aversão a risco.

Especificamente no Brasil, a economia segue em recuperação e temos observado uma descompressão nos prêmios de risco. Entretanto, o receio com os riscos fiscais e o atual nível da taxa básica de juros (taxa de desconto para ativos de risco) ainda deve nos manter vigilantes.

É interessante buscar por portfólios mais diversificados, ter visão de longo prazo, e ainda manter uma parcela elevada em ativos líquidos e seguros para serem usados aos poucos, na procura por diversificação e em momentos nos quais o mercado apresentar descontos excessivos e ou o cenário apresentar uma visibilidade maior.

 O investidor deve tomar riscos – importante que sejam riscos sensatos, adequados ao seu perfil – e não se acovardar em momentos de maior volatilidade. Crises não duram para sempre, a resiliência é uma virtude na gestão do patrimônio.

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