Rendimentos dos Treasuries atingiram máximas desde 2007. Afinal, como isso está influenciando o mercado?
O rendimento do Treasury de 10 anos atingiu a máxima de 15 anos na última semana, com preocupações crescentes de que o Federal Reserve manterá os juros altos por mais tempo em um momento em que os gastos deficitários do governo norte-americano ganham mais atenção.
Dados econômicos estão revelando a resiliência da atividade econômica em alguns setores dos Estados Unidos. Além disso, o Federal Reserve reforçou a possibilidade de elevação residual dos juros para garantir a desaceleração da inflação. Ou seja, as fed funds podem encerrar 2023 no patamar entre 5,5% e 5,75%.
Curva de Juros nos Estados Unidos
Fonte: Bloomberg e Research XP
Como isso influenciou os ativos brasileiros? Através da percepção de juros maiores. A curva de juros futuros embutiu alta nos vértices intermediários e longos, ganhando novamente inclinação.
O juro americano é a base do custo financeiro global e o Brasil não é uma bolha. Se começa a situação azedar nos Estados Unidos, vai afetar aqui. Inclusive, essa poderia ser uma restrição para a magnitude do corte de juros no Brasil, que recentemente caiu de 13,75% para 13,25%.
Curva de Juros no Brasil
Fonte: Bloomberg e Research XP
Dados correntes de inflação contribuíram para alta nos vértices mais curtos. O IPCA-15 foi de 0,28% em agosto, 0,35 ponto percentual acima da taxa de julho (-0,07%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,38% e, em 12 meses, de 4,24%, acima dos 3,19% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Destaques IPCA-15 Acumulado em 12 meses (%)
Fonte: IBGE
Sete grupos, dos nove pesquisados, registraram alta em agosto. A maior variação (1,08%) e o maior impacto (0,16 p.p.) vieram de Habitação. Destaca-se a alta da energia elétrica residencial (4,59% e 0,18 p.p.), influenciada pelo fim da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês anterior.
A dúvida está relacionada à dinâmica do preço dos combustíveis diante da recente valorização do petróleo. Em 15 de agosto, a Petrobras anunciou um aumento de R$ 0,41 no preço da gasolina e de R$ 0,78 no diesel. Esse efeito será observado no IPCA fechado de agosto e setembro. Note que a gasolina chegou a mostrar deflação acima de 20%, e agora acumula -4,58%.
O dado veio acima do consenso do mercado (0,17%) e a expectativa ao longo do 2º semestre é que o IPCA transite no patamar acima de 4%. Pela projeção do Focus, encerrará 2023 em 4,9%. Algumas semanas atrás, as notícias eram de correção da projeção para baixo; alguns economistas falam em inflação próxima de 4%. Agora, o movimento de correção é para cima; já aparecem projeções pouco acima de 5%.
O mercado chegou a precificar que o Banco Central poderia acelerar o corte de juros para o ritmo de 75 pontos-base (em alguma das próximas três reuniões do ano) logo após a reunião do Copom em agosto. Haveria possibilidade caso a inflação de serviços (aspecto que ainda deixa o Copom parcimonioso) confirme a tendência de desaceleração em conjunto com uma melhora adicional nas expectativas de inflação. Recentemente, a correção das projeções de IPCA 2023 para cima e a pressão sobre os juros das Treasuries limitaram essa aposta de corte de juros mais agressivo. Acompanhar esses fatores, em conjunto com os desdobramentos da política fiscal, é crucial para entender os próximos passos da política monetária no Brasil.
Informação gera a melhor decisão!
Conteúdo feito por Camila Abdelmalack – Economista-Chefe da Veedha.